sábado, 12 de junho de 2010

O Homem objeto



A cerca de dois anos comprei meu PC. Apesar de nunca ter sido uma maquina topo de linha, na época era um bom aparelho. Eu mesmo fiz que questão de escolher cada um dos componentes, pensando em fazer desse micro uma maquina que atendesse minhas necessidades imediatas. Passados dois anos desde que o comprei, percebo que o PC que um dia me serviu tão bem está obsoleto. Hoje ele está lento, não roda uma serie de aplicativos mais recentes e o seu Disco Rígido não é mais suficiente para dar conta de armazenar meus arquivos. Logo terei que substituí-lo por outro. Faz parte da vida: quando um objeto que tenho não nos serve mais, o trocamos por outro que passa a servir. E assim vamos levando.

Essa descrição da minha relação com o meu computador serve para ilustrar o tipo de relação que o ser humano tem estabelecido entre si: da mesma forma que substituo um objeto que tenho quando ele não me serve mais, o homem o faz com os outros homens: o troca por outro quando ele não tem mais utilidade para ele. Tal como os objetos, o homem não tem nenhum valor em si mesmo, mas é valorado apenas na medida em que ele possa ser de alguma forma útil, seja no trabalho seja nas relações com outras pessoas. Pode parecer estranho valorar o homem com relação a utilidade nas suas relações sociais, mas isso acontece com muita freqüência, em especial nos relacionamentos “amorosos”. Não é incomum, por exemplo, ouvirmos historias de pessoas que foram abandonadas por seus parceiros quando, por algum motivo, não conseguem mais satisfazer sexualmente os seus parceiros.

O que ocorre é que hoje a relação entre as pessoas se reduziu a algo meramente instrumental, em que as pessoas se usam para conseguir objetivos que não tem haver com a relação que tem uma com as outras. Eu posso usar alguém para fazer um trabalho que eu não quero fazer ou posso usá-la para que essa pessoa me proporcione algum tipo prazer. Em ambos os casos, caso a pessoa escolhida para ser instrumento de satisfação das minhas necessidades não for bem sucedida, basta trocá-la por outra, tal como eu troco de PC quando ele está lento.

Embora pareça que essa situação seja natural, sendo sempre observável no decorrer da história, ela é realmente a origem de todos os nossos males. Afinal de contas, um objeto, não tendo valor em si mesmo, logo perde nosso interesse, se torna descartável, inútil, imprestável e esse tipo de idéia aplicada ao homem gera conseqüências terríveis, tais como a escravidão por exemplo, em que um homem trota o escravo como coisa, que tem como único motivo de existência servir ao seu senhor.

É necessário que o ser humano veja a si mesmo como Ser, sujeito especial que possui um valor intrínseco em si que deve ser respeitado, e que comece a ver que os objetos que ele não cria não pode de forma alguma servir de paradigma as relações que traçam com os seus semelhantes. Se isso não acontecer, logo será o tempo em que pessoas, e não coisas, serão jogadas em aterros quando não mais servirem aos propósitos para os quais foram designados. Da mesma forma que o meu PC.